Pastor, Conferencista e Professor de Teologia

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

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terça-feira, 7 de junho de 2011

A destruição de Jerusalém e do Templo no ano 70



Por mais de um século, o povo judeu vinha sofrendo a humilhação de estar sob a dominação romana. Ao entrar triunfante em Jerusalém, em 63 a.C., o general Pompeu teve o atrevimento de penetrar no Templo, iniciando um período de profanação que acentuou ainda mais a perda de independência da nação judaica. Entretanto, enquanto o Templo permanecesse de pé e houvesse um rei judeu no trono (Agripa), haveria a esperança de uma independência futura.

Por isso, à medida que o século se aproximava do fim, a crescente expectativa messiânica combinava-se com as aspirações nacionalistas judaicas e os conflitos provocados pela ambição política de grupos rivais. Do ponto de vista de Roma, o judaísmo era uma autonomia insuportável, só tolerada para manter o nacionalismo judaico sob controle. Entretanto, se os ideais religiosos desencadeassem os sentimentos nacionalistas, Roma estaria pronta para intervir.

Em 44 d.C., a morte do rei Agripa colocou todo o país sob a administração direta de Roma, acabando com a ilusão da independência judaica. A crescente opressão romana, o alinhamento das autoridades romanas ao lado dos gentios que habitavam a terra, e as repetidas violações da santidade do Templo criaram uma atmosfera propícia à revolta. Em abril do ano 66 de nossa era, quando o governador romano confiscou dezessete talentos do tesouro do Templo, os nacionalistas judeus se rebelaram. Eles se apoderaram do Templo, interromperam os sacrifícios diários em honra ao imperador romano e capturaram a fortaleza de Massada.

A Revolta


A Grande Guerra, ou Primeira Revolta Judaica, foi um evento ímpar naquela região, porque os judeus foram o único povo no antigo Oriente Próximo a lançar uma ofensiva em larga escala contra o Império Romano. Ímpar também foi o fato de que nenhum outro conflito da Antigüidade foi relatado com tantos detalhes por uma testemunha ocular. Essa testemunha foi um historiador judeu do primeiro século chamado Yosef ben Mattityahu, mais conhecido como Flávio Josefo. Josefo era um ex-fariseu e comandante das forças nacionalistas judaicas na Galiléia. O historiador romano Dio Cássio também forneceu outro importante relato, baseado em documentos militares oficiais.

Em resposta à insurreição judaica, concentrada principalmente em Jerusalém, Vespasiano, principal comandante romano, foi enviado para sufocar o levante com cerca de cinqüenta mil soldados. O ataque de Vespasiano começou no norte de Israel que, ao contrário de Jerusalém, ofereceu pouca resistência. Por exemplo, as famílias judias que ocupavam a fortaleza galiléia de Jotapata, defendida por Josefo, preferiram cometer suicídio a se renderem ao inimigo. Quanto a Josefo, ele passou para o lado dos romanos.

Uma exceção foi a cidade de Gamla, nas Colinas de Golã, que, no outono do ano 67 d.C., tentou conter o avanço romano em direção a Jerusalém. Os romanos, porém, dizimaram a cidade, massacrando quatro mil judeus. Para que suas famílias não fossem vítimas da brutalidade de Roma, cerca de cinco mil judeus tiraram a própria vida, saltando para a morte do alto dos abismos que cercavam aquela área. A atitude heróica daquela cidade lhe rendeu o título de "Massada do Norte".

O Cerco de Jerusalém


No verão do ano 70 de nossa era, a Décima Legião de Vespasiano chegou às portas de Jerusalém e sitiou a cidade. Por causa da afluência de refugiados vindos de outras cidades judaicas destruídas pelos romanos, além dos próprios habitantes da Judéia que fugiam das legiões, a população de Jerusalém tinha, no mínimo, triplicado. A reputação de Jerusalém como cidade grande e inexpugnável (ela era uma das maiores cidades do mundo antigo) fazia dela um desafio significativo para os já enfraquecidos soldados romanos. Entretanto, como centro da autoridade política e espiritual da revolta judaica, a cidade estava também destinada a ilustrar de forma exemplar o castigo aplicado por Roma a seus inimigos.

Na época do cerco romano, duas das mais combativas facções nacionalistas judaicas, os zelotes e os sicários, tinham assumido o controle do monte do Templo com a ajuda de mercenários idumeus (descendentes dos edomitas). Os idumeus tinham assassinado impiedosamente os saduceus e fariseus que constituíam as alas mais moderadas da sociedade e ocupavam as posições de governo. Desde o início, o objetivo dos combatentes era aniquilar as forças de ocupação romanas e expulsar os invasores da terra de Israel. Agora que a guerra havia chegado à Cidade Santa, era vencer ou morrer.

Para evitar que a população judaica da cidade fugisse ao invés de lutar até a morte, os zelotes destruíram os depósitos de alimentos e proclamaram a inviolabilidade divina de Jerusalém. Como a única maneira de sair da cidade era num caixão, um dos líderes da seita dos fariseus, o rabino Yochanan ben Zakkai, escapou escondendo-se num deles e rendendo-se a Vespasiano.

Ao ser levado à presença do general, o prisioneiro dirigiu-se a ele como imperador e disse que Deus só permitiria que Sua Cidade Santa fosse conquistada por um grande soberano. Segundo a tradição, naquele mesmo instante chegou um mensageiro vindo de Roma para comunicar que o imperador havia morrido e que Vespasiano tinha sido escolhido como seu sucessor.

Impressionado com a profecia do rabino, o novo imperador permitiu-lhe proteger os rolos da Torá e os eruditos que se dedicavam ao seu estudo na cidade de Yavneh. Assim, embora o Templo tenha sido destruído, a Torá foi preservada; e, embora Jerusalém tenha sido arrasada, o judaísmo foi poupado.

O Golpe Final

Vespasiano retornou a Roma para assumir seus deveres como imperador e entregou a seu filho Tito, comandante da Décima Legião, a tarefa de completar a tomada de Jerusalém. Apesar da fome que tomava conta da cidade, os judeus celebraram a última Páscoa em seu Templo e se prepararam para a ofensiva romana.


O ataque começou dias depois, com um bombardeio de catapultas que durou dois meses, até que, finalmente, os romanos romperam o muro. Indo de casa em casa, os conquistadores incendiaram a cidade, massacrando todos os judeus que encontravam pela frente. Um testemunho arqueológico da ferocidade dos combates é a "Casa Queimada", localizada dentro do atual Bairro Judeu [da Cidade Antiga]. Ali estão as ruínas de uma das casas destruídas pelos romanos em 70 d.C., com os restos de uma mulher que foi morta com uma lança na mão e tombou na soleira da porta.

Embora enfraquecidos pela fome, os judeus defenderam o monte do Templo contra a invasão dos romanos por três semanas. Então, no nono dia do mês deAv (agosto), os romanos atingiram o complexo do Segundo Templo. Como um sinal dos céus, o primeiro Templo havia sido destruído pelos babilônios nesse mesmo dia, 656 anos antes.

Dio Cássio descreveu a resistência final dos judeus reunidos em torno do recinto sagrado:

O povo estava posicionado embaixo, no pátio, os anciãos nos degraus, e os sacerdotes no Santuário propriamente dito. E, embora eles fossem apenas um punhado de pessoas lutando contra um exército muito superior, só foi possível derrotá-los depois que uma parte do Templo foi incendiada. Diante disso, eles buscaram a morte. Alguns se lançavam contra as espadas dos romanos, outros matavam seus companheiros, outros tiravam a própria vida e outros se jogavam no meio das chamas. Parecia a todos, e principalmente a eles mesmos, que, longe de ser uma derrota, o fato de perecerem junto com o Templo representava vitória, salvação e felicidade.

Depois disso, os romanos saquearam o Templo e retiraram dele todos os objetos de valor. Mais tarde, esses tesouros foram exibidos em Roma, durante a parada da vitória, carregados por milhares de escravos judeus. A imagem desse dia permanece até hoje no Fórum Romano, gravada num dos altos-relevos do monumento conhecido como o Arco do Triunfo de Tito.

Uma vez começado o incêndio do Templo, os romanos cortaram as árvores daquela área para fazer uma grande fogueira em torno da estrutura. A umidade acumulada nos blocos de pedra calcária do Templo se expandiu com a alta temperatura e explodiu as paredes, e todo o edifício sagrado ruiu num só dia.

A Questão do "Por Quê?"

Josefo comentou que a demolição do Templo contrariou as ordens específicas de Tito, que queria preservá-lo. Realmente, a política romana era controlar os templos dos povos conquistados e depois permitir que eles fossem novamente utilizados para o culto de seus deuses, como um ato de clemência em troca da completa submissão. Alguns eruditos acreditam que os soldados romanos, meio enlouquecidos pela duração da resistência judaica e pelo desejo de se apoderarem dos tesouros do Templo, incendiaram tudo deliberadamente.

Algumas fontes judaicas afirmam que o fogo começou acidentalmente quando a tocha de um soldado atingiu as cortinas do santuário. Entretanto, quando minha turma na Universidade Hebraica de Jerusalém debateu essas opções, nenhuma delas nos pareceu satisfatória. Então procuramos nosso professor, Isaías Gafni, um judeu ortodoxo, e perguntamos qual era a sua opinião. Depois de uma pausa e de um sorriso, ele nos disse: "Talvez Jesus tivesse razão!" Quer sua resposta tenha sido apenas uma tática de retórica rabínica ou um lampejo inconsciente de inspiração, o fato é que ela acabou com a discussão.

Para os rabinos, o motivo da destruição do Templo foi sinat chinam, "ódio sem sentido" entre os judeus. Segundo essa teoria, a violenta rivalidade entre as seitas judaicas explodiu numa espécie de guerra civil, dividindo o povo judeu, enfurecendo a Deus e expondo a nação ao juízo divino e à fúria dos romanos.

Contudo, se levarmos em conta a suposição do professor Gafni, Jesus esclareceu qual foi a principal causa da destruição de Jerusalém:

"Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação" (Lc 19.43-44; cf. Mt 23.37-38; At 3.13-15).

Embora outros fatores internos estivessem em ação, a rejeição de Jesus como o Messias prometido, por parte da nação judaica, foi o ato culminante que desencadeou o julgamento divino. Apesar desse juízo ter acabado com a instituição do Templo e forçado a reformulação do judaísmo, ele não pôs fim ao povo judeu nem às promessas pactuais e incondicionais de restauração nacional e bênçãos futuras através do Messias. Jesus incluiu essa esperança até mesmo em Seu discurso profético contra Jerusalém e o Templo: "Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 23.38-39).

O apóstolo Paulo, baseando-se nas profecias de Isaías, ensinou que esse dia de arrependimento nacional dos judeus acontecerá na volta de Jesus a Jerusalém: "E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados" (Rm 11.26-27).

A chamada ao arrependimento em relação a Jesus, reconhecendo-O como o Messias prometido, foi feita por muitos judeus piedosos antes da destruição do Templo e continua a ser feita atualmente. O apóstolo Pedro, que fez sua exortação ainda nos dias do Segundo Templo, nos recorda que a esperança da restauração de Israel está em seu arrependimento: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas" (At 3.19-21).

Sempre que um judeu responde a esse chamado, ele encontra sua libertação. Quando a nação judaica atender finalmente a essa exortação, o desastre da Grande Guerra será transformado na vitória da Grande Redenção. (Israel My Glory - http://www.beth-shalom.com.br)

Randall Price, presidente do World of the Bible Ministries, Inc., é arqueólogo e autor de vários livros sobre Jerusalém e o Templo Judaico.

Publicado anteriormente na revista Notícias de Israel, outubro de 2004.


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