Pastor, Conferencista e Professor de Teologia

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A importância de Lutero para o Protestantismo



A Reforma Protestante, que teve como cenário a Alemanha do início do século XVI, se inicia como um movimento de ordem religiosa, entretanto, podemos observar que o movimento da Reforma acaba ultrapassando este âmbito e influenciando, quando não suscitando, movimentos de reforma nas demais áreas da sociedade. Este é o século, por exemplo, em que entra em decadência a estrutura da sociedade medieval; inicia-se o Renascimento, além de “tomar corpo a Modernidade com quase todas as suas características: a secularização, o individualismo, o domínio da natureza, o Estado moderno, a afirmação da burguesia e da economia de mercado e capitalista no sentido próprio, ainda que essas características tenham sido confirmadas como estrutura de uma época histórica somente no século seguinte. É fácil verificar o início desse movimento como mérito de Lutero, quanto a sua autoridade como maior contribuinte, deflagrador e líder da Reforma Protestante.
Nesse sentido, em um período de profundas transformações, Martinho Lutero (1483-1546), monge da ordem de Santo Agostinho, inicia um movimento de reforma da Igreja Católica. Após tornar-se doutor em Teologia, Lutero passa a questionar o poder absoluto do papa e as práticas da própria Igreja em suas cobranças de indulgências, abusos e corrupções, defendendo o sacerdócio universal de todos os cristãos, o livre acesso às Escrituras, entre outros. Contudo, a atuação de Lutero vai além da de um teólogo e erudito; ele apresenta seus escritos e suas teses mostrando ser um homem preocupado com as questões da Igreja, para as quais faz propostas de mudanças que acabam envolvendo alterações no desenvolvimento de seu país como um todo. Assim sendo, Martinho Lutero, lança os fundamentos que dão as bases da Reforma e se torna ao mesmo tempo a pessoa mais importante para o protestantismo.
A importância de Lutero para o protestantismo pode ser vista claramente na sua concepção de Igreja. Neste contexto, Lutero amadureceria sua concepção eclesiológica, que se caracteriza como profundamente ecumênica. Para Lutero, Igreja é corpo místico de Cristo. O corpo místico é a verdadeira Igreja. Esta Igreja não coincide necessariamente com uma Igreja (visível) institucional (por exemplo, a Católico-Romana, ou a própria Igreja Luterana, ou ainda qualquer outra Igreja institucional). A verdadeira Igreja é invisível aos olhos humanos; somente Deus a conhece. As pessoas não podem classificar quem pertence à verdadeira Igreja. Para Lutero, esta descoberta foi extremamente importante. Segundo ele, somente através da Igreja invisível nos é assegurada a salvação e somente o pecado nos pode excluir dela. De outro lado, a excomunhão da Igreja visível (institucional) em nada afeta nossa participação na Igreja invisível (verdadeira). Por isso, devemos nos submeter à autoridade eclesiástica, mas, antes disso, ser fiéis à verdade. Esta concepção de Igreja em Lutero traz pelo menos duas contribuições importantes para o protestantismo: Primeiro, ele impede a leviana identificação de uma Igreja institucional, por exemplo, Católico-Romana, Luterana, Presbiteriana, Batista, Metodista etc. como sendo a única e verdadeira Igreja; segundo, Lutero preserva a noção de corpo, portanto, da ecumenicidade de forma que se possa crer que a verdade cristã não fica “algemada” a uma instituição eclesiástica em detrimento de outra. Portanto, a grande contribuição de Lutero é fomentar uma compreensão inclusiva e não exclusiva de Igreja.
Podemos afirmar também que Lutero foi um marco para a história não só do protestantismo como do próprio cristianismo. Lutero marcou profundamente a história e a teologia cristã. Podemos destacar dois pontos a este respeito. Primeiro: Lutero contribuiu para o rompimento do corpus Christianum (corpo político-social) medieval. A sociedade medieval era ambos ao mesmo tempo: “religiosa” e “civil”. Não havia alternativa por um ou outro modo de vida. Teoricamente, Lutero apresentou o caminho para a libertação da Igreja perante o Estado e do Estado perante a Igreja, ainda que isso ocorresse, concretamente, somente com a Revolução Francesa (1789). Lutero o fez ao evocar a liberdade de consciência, inaugurando um princípio fundamental não só para a fé cristã, mas para o pensamento em geral. Contudo, não se tratava de uma consciência sem parâmetros, mas com base na autoridade da Sagrada Escritura. Neste sentido, é exemplar sua afirmação perante o imperador na Assembléia de Worms, em 1521: “[...] Minha consciência está presa nas palavras de Deus – não posso nem quero retratar-me de nada, porque agir contra a consciência não é prudente nem íntegro. [Não posso de outro modo, cá estou] Que Deus me ajude, amém”. Desta forma, Lutero evocou a defesa pela liberdade de fé. Religião e fé jamais podem ser obrigação. Las Casas defenderia princípio semelhante no contexto da evangelização na América do século XVI, ao passo que a empresa colonial ibérica, sob o princípio da Inquisição, buscava a homogeneização da religião pela força. Ao defender a liberdade de consciência, Lutero contribuiria para o surgimento do éthos democrático, frente a quaisquer totalitarismos.
Outro exemplo claro da importância de Lutero para o protestantismo é que ele dá ao Movimento uma reforma teológica. A partir da evocação da liberdade de consciência, Lutero pleiteia pela Reforma da Teologia de tal forma que a própria liberdade de consciência seja possível. Neste sentido, enquanto opositores de Lutero concebiam que todo o problema da Igreja residia na falta de uma piedade profunda e séria, Lutero percebia que o problema não estava na falta de piedade, mas na Teologia que nutria a piedade de seu tempo. Logo, para Lutero era necessário reformar a Teologia. Portanto, a Reforma tinha que ser, para Lutero, uma reforma teológica. Isso explica por que Lutero não concentrou toda sua atenção na Reforma do culto nos primeiros anos de sua obra. É somente a partir de 1523 que ele se ocuparia com a Reforma do culto.
Outro exemplo da importância de Lutero para o protestantismo pode ser verificado no conceito da justificação por graça e fé. Esta concepção é certamente a mais conhecida e também caracteriza o pensamento teológico do protestantismo. Lutero entendia que o princípio da justificação por graça e fé se opõe às tentativas humanas de, por mérito próprio, tornar-se justo aos olhos de Deus e das pessoas em geral. Em oposição a isso, Lutero defendeu que uma pessoa não se torna justa porque ela faz obras de justiça. Ela somente faz obras de justiça porque ela foi antes feita justa para fazer estas obras de justiça. Como a pessoa é totalmente “pecado”, não somente pecadora!, uma força externa a ela precisa transformá-la para que possa realizar obras de caridade e justiça. Esta força externa é Cristo. Então, a identidade da pessoa cristã é excêntrica, conferida por Cristo, e não antropocêntrica construída pela própria pessoa. Neste sentido, a identidade da pessoa cristã é “conformista” com Cristo. Através da fé, a pessoa é tornada “con-forme”, ou seja, assume a forma de Cristo.
Como vemos nestes exemplos, são as idéias de Lutero que dão forma ao protestantismo, de modo que não há como ver Lutero sem ver a Reforma e não há como ver a Reforma sem ver Lutero. Podemos estar certo de que o Movimento Protestante é uma “conseqüência” da ação de Lutero. E talvez se possa considerar que sem Lutero, não haveria Reforma, e que sem a Reforma, com os seus efeitos, a Modernidade com quase todas as suas características teria sido modificada ou, no mínimo, retardada. Lutero foi tão importante para a Reforma quanto a Reforma para Lutero. Os dois estão entrelaçados. Assim, é de se considerar, portanto, com propriedade, que a Reforma Protestante teve como seu instrumento mais importante o seu próprio deflagrador e líder: Martinho Lutero.

Pr.Luiz Carlos B. Ferreira, é Mestre em Teologia Ministerial com concentração em Psicanálise Pastoral.

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